Que tristeza...




Este será, possivelmente, o post que me está a ser mais difícil alinhavar. Mete coisas ao barulho que para mim ainda têm muito valor como a amizade, a solidariedade e, acima de tudo, a ética pessoal e profissional.

Não despojados de alguma razão, infelizmente, estas coisas da Arqueologia são por muitos vistas como um autêntico ninho de lacraus. E não é por se trabalhar com terra . É sim pela pluralidade de personagens que o mundo da ciência arqueológica consegue agregar. Há quem já tenha feito uma análise sociológica do fenómeno, por exemplo o Victor Oliveira Jorge. Mas essa tipologia de arqueólogos portugueses está incompleta. Não contempla um aprofundamento do objecto á escala regional contemplando o estrato mais rasteiro dominado por gente do sub-mundo que só se movem em função da soberba pessoal e dos interesses económicos . Sacaneiam tudo e todos para atingirem os seus fins. São duas as subespécies: Os senhores licenciados convencidos que lá por terem tirado o seu cursito superior são vistos nas terras e nas organizações onde trabalham? (geralmente Câmaras) como grandes sábios da ciência e os ajudantes. Adiante.

Fui surpreendido por uma reportagem que saiu hoje no semanário Gazeta do Interior onde se noticia a descoberta por parte de elementos da Associação de Estudos do Alto Tejo de 70 novos sítios arqueológicos em Monsanto da Beira. Da notícia, que incluiu declarações em discurso directo há alguns pontos que não podemos deixar passar em claro. Ainda que não tenha tido acesso ao documento acho que muitos desses 70 pontos não estão inéditos. Incompreensivelmente, os informantes fizeram tábua rasa do trabalho de outros investigadores: o caso de Félix Alves Pereira (leram?) , de Leite de Vasconcelos (leram?), de Octávio da Veiga Ferreira (leram?) , de Adelaide Salvado (leram?) e de mim próprio. O facto de os arqueossítios não constarem da base de dados do IPA, não quer dizer que estejam inéditos ou por reconhecer. É pois este clima de inverdade e de soberba que a notícia transmite com fotos das falsas descobertas. Aqui chegado, chamo a atenção para um pequeno pormenor: Sou membro da AEAT, sediada em Vila Velha de Ródão, desde que foi criada. Mais a minha Carta Arqueológica da Freguesia de Idanha-a-Velha, vizinha de Monsanto, foi editada por esta associação.

Mas esta tristeza pseudo-científica tem a sua 'estória'. Soube que um dos autores das descobertas, agora também sócio da AEAT, encontrava-se a fazer prospecções e recolhas clandestinas perto da minha área de residência. Era um híbrido entre arqueologia e etnografia. Como não tenho qualquer confiança científica na personagem, não digo que seja má pessoa, mas que é conhecido na região por andar sempre a vender objectos de todo o cariz de duvidosas proveniências (mal de quem lhas compra), comuniquei ao Carlos Banha do IPA o que se estava a passar. A personagem chegou mesmo a ser alvo de uma entrevista saída no ano passado no jornal Reconquista de Castelo Branco onde teve o descaramento de se indignar com a situação de abandono das lagariças monsantinas criticando a Câmara desse pseudo-facto. Mais tarde e como a AEAT vinha ao barulho nessa noíicia, falei com o responsável da AEAT (Francisco Henriques) do facto e dessa descabida e despropositada manipulação vindo de uma pessoa que não possui qualquer credibilidade dentro da arqueologia, da história, da etnografia e de mais uma quantas ciências.Ora, pelo agora lido, as minhas preocupações e avisos cairam em saco roto. E é com lástima que detecto o surgimento da dupla de ‘arqueólogos formada pelo Francisco Henriques, de quem já sou amigo vai para quase trinta anos, e do tal senhor. O F H nunca mais disse nada. Pudera. Afinal já estava tudo orquestrado não foi? ...Até ao dia de hoje. Dirão que a AEAT pediu licença para prospectar a zona, o que lhe foi concedido. Tudo dentro da norma. Foi um dos lados da moeda. Mas o que me magoou, tragicamente, foi tudo o que veio depois. Tudo feito à socapa e a AEAT nunca me ter dito nada. Deveria ter-me comunicado a acção já que a mesma se passava a escassos quilómetros da minha casa. Nada, e para mais sabendo eles que eu tenho vindo a produzir trabalho na zona. Mas não. O F. H. lá saberá o que andou e anda a fazer. Desde logo mandou às urtigas uma amizade que vinha desde 1975. Porquê? Por soberba? Por egoísmo? Por receio de se estar a aproveitar de trabalho alheio? Pelo medo que fosse mais alguém a ficar com os louros das ditas “descobertas”? Ou com receio que mais. Ou terá sido uma questão económica? Eticamente é reprovável! O que ele pensaria se eu fosse fazer trabalhos arqueológicos em Vila Velha sem ao menos lho comunicar? E pertencemos os dois à mesma Associação... Melhor pertencia-mos, pois é minha intenção meter o pedido de demissão o mais rápido possível, desde já esclarecendo os restantes membros desta imoral situação. È claro que os outros poderão continuar a contar com a minha amizade, solidariedade e ajuda no que for necessário. Não esqueço o meu passado de amador e quem me tem ajudado a vários níveis..


PS- Antes que apareça em parangonas de jornal a “descoberta” da vila de S. Lourenço, situada perto de S. Pedro de Vir a Corça, freguesia de Monsanto da Beira , declaro que procedi a trabalhos de natureza arqueológico no local em 1983 e 1984.