Como complemento ao recente post do O Albicastrense editamos algumas fotografias da zona do espaço urbano que começou a ser considerada como o centro cívico da cidade de Castelo Branco nas primeiras décadas do século XX. Não sabemos quem terá sido o seu autor. É possível que algumas sejam captações realizadas pela casa ‘Foto Beleza’ do Porto. Foram retiradas de um número dedicado ao distrito de Castelo Branco da revista “Viagem. Revista de Turismo, Divulgação e Cultura”, datada de 1947. Dois anos depois do final da 2ª Guerra Mundial, o País acreditava em todas as “bondades” do regime. Afinal o Estado queria-se Novo. Novidades que acabariam, também, por chegar à cidade que, a partir de então cresceu rasgando a sua primeva silhueta rural histórica. O poder de então rejubilava com esta materialização da nova urbanidade albicastrense exibindo e propagandeando a mudança até à exaustão. O progresso, o desenvolvimento, as melhorias, o turismo, o ensino, a cultura por fim, arribavam. A palavra ‘novo’ era das mais utilizadas nos discursos e nas mensagens. Em Castelo Branco então tudo era Novo: do depósito da água à avenida da estação, do miradouro de S. Gens ao Castelo, do Liceu Nuno Álvares ao Parque da cidade. Novo, novo., novo. Morra o velho albicastro! É tudo isto e mais alguma coisa que estas fotografias transmitem. Reparem . Assim, à primeira vista, até parecem fotografias contemporâneas das intervenções resultantes do programa Pólis que se caracterizou também por inscrever um ‘novo’ tempo urbano na mentalidade do nosso colectivo. Reparem na legenda da primeira fotografia manipulada, com a inclusão de um enquadramento gótico-florido, para atenuar o deserto e a secura do espaço urbano renovado: “Um aspecto dos novos melhoramentos na Cidade de Castelo Branco”. Em cinquenta anos as novos melhoramentos ficaram velhos...
Mas como escreve Susan Sotang: "Vivemos no momento, uma época de nostalgia, e a fotografia promove intensamente a nostalgia.(...) Precisamente por lapidar e cristalizar determinado instante, toda fotografia testemunha a dissolução inexorável do tempo." É até esse horizonte que estas fotografias nos conduzem. Tudo é tão, tão efémero. E a memória do poder perguntarão ? Ah! Essa encontra-se, ás vezes, plasmada numa abandonada lápide comemorativa ou nas amarelecidas páginas de uma revista ou de um jornal que já foi lido.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.”
Bem haja sábio Camões. Pena é que quase ninguém te escute.