ONDE É QUE ANDARÁ A LÁPIDE FUNERÁRIA DO SOLDADO BRITÂNICO?















Na década de trinta do passado século encontrou-se algures na Freguesia de Sarzedas (Concelho de Castelo Branco) uma inscrição latina, em xisto. Em 1938 entraria para as colecções do Museu de Francisco Tavares Proença Júnior, de Castelo Branco, através de diligências do seu terceiro director, Tenente-Coronel Elias Garcia que assim salvaguardaria para o futuro, pensava, uma das fontes mais originais da História da Militar da região. O epitáfio Tomás Stewart, militar do Regimento 31 do Exército Inglês que morreu próximo de Castelo Branco no dia 19 de Agosto de 1810, com a idade de 20 anos (como se epigrafou) é uma peça epigráfica única na Beira.

Na década de sessenta Luís Pinto Garcia publicaria, na revista Estudos de Castelo Branco, o ensaio “Uma lápide funerária de um soldado britânico” difundindo-se esta originalidade epigráfica pelo País e pelo estrangeiro. O texto seria republicado em finais de setenta conjuntamente com outro da mesma autoria numa edição do Museu.

Aquando da direcção de Fernando de Almeida já com o Museu situado no antigo palácio episcopal, a lápide seria incluída na sua secção de epigrafia portuguesa. Anos depois, a notável inscrição fazia parte de um discurso pedagógico junto das escolas (sim que isto das pedagogias museológicas não é ‘invenção’ de hoje como alguns e algumas querem fazer crer). Nos tempos da direcção de António Salvado, assistimos (era funcionário da casa com muito orgulho) ao ‘aproveitamento’ da lápide em inúmeras visitas de estudo das escolas. E já agora, também as Invasões Francesas, principalmente a 1ª., mereceram a devida atenção por parte do então responsável máximo por esta instituição da cidade e da região. Tempos dirão. Pois, pois.

O Museu de Francisco Tavares Proença Júnior entraria durante a década de 90 em profundas obras de reabilitação e de redefinição do discurso expositivo. Foi infelizmente, a nosso ver, uma intervenção, castradora da história arquitectónica do monumento. Escusada. Por exemplo, destruíram-se painéis setecentistas dos azulejos…Nesta ‘revolução’ museográfica dominada pelos bordados e afins, a inscrição em causa foi transportada para o exterior do edifício. Encostada a um contentor do estaleiro, lá foi ficando sujeita aos rigores dos elementos e ao desprezo dos doutos técnicos. Alguns funcionários avisaram a direcção sobre os perigos que assolavam a inscrição. Mas nada. A drª. Clara Vaz Pinto queria lá saber de lápides. Se nem as romanas, quanto mais as britânicas… Até que, um dia, a coisa deu-se. Por descuido e por irresponsabilidade a lápide partiu-se em bocados. “Ai Jesus. E agora?”. Lá pegaram nos fragmentos, viajando a coisa até Conimbriga a fim de ser convenientemente restaurada. Até hoje.

Quando é que esta importante fonte da história das Invasões francesas regressará da sua forçada estancia coimbrã?


PS.- Na renovação dos anos oitentta, as linhas expositivas propostas pela direcção e pelos técnicos de então (algum ou outra por lá ainda anda) foram as seguintes:

Exposição permanente
Memórias do Bispado: iconografia religiosa; retrato.
Tecnologias têxteis tradicionais: Linho.
Tecidos Bordados: Paramentaria; traje; colchas.

Pois bem. Esta lápide poderia ter ‘colado’ muito bem às memórias do Bispado? Mas faltou (como falta?) o engenho e a acima de tudo a arte:- A arte de conhecer e de imaginar.

No blog O ALBICASTRENSE do nosso amigo Veríssimo Bispo este assunto será retomado