Pedido arquitectónico









Mão amiga emprestou-nos um exemplar de um suplemento da prestigiada revista de arquitectura G2 com o título ‘Portugal 2000-2005. 25 Edifícios do século XXI”. Este dossier é no dizer da sua organizadora, a arquitecta Ana Vaz Milheiro, «um guia temporário» do que de melhor se construiu no nosso país entre 2000 e 2005. As páginas 34 a 37 são preenchidas com o artigo “Requalificação da vila de Idanha-a-Velha, Beira Baixa” de autoria do Atelier 15 que se rege sob batuta criativa dos conceituados senhores arquitectos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernández. Não vamos perder tempo a tentar perceber qual a ligação destas intervenções com a da província da Beira Baixa criada pelo salazarismo? Saudosismos? Agora ficámos surpresos com a designação de vila a Idanha-a-Velha. Ele há coisas. E nós que pensávamos que a freguesia tinha deixado de ser considerada vila em.... Pois para os senhores arquitectos não. A não ser que, também é uma possibilidade, como estas duas personalidades circulam muito pelos corredores do poder, se tenham apercebido da emergência de uma nova classificação para a ancestral aldeia. Se calhar é para criar uma nova centralidade administrativa, agora que se fala tanto em reformar o mapa autárquico nacional.

Com a devida vénia, editamos aqui o dito artigo, para todos podermos reflectir como foi bem aplicado o dinheiro público. Realçamos contudo que apesar de muito de ter feito em Idanha-a-Velha nos domínios da reabilitação arquitectónica e da criação patrimonial contemporânea, a intervenção global não solucionou uma das questões mas prementes da nossa sobrevivência como indígenas: a implantação da prometida ( e tão esquecida...) Zona de Expansão Habitacional.

È que nesta terra não há terrenos nem casas à venda. Infelizmente, a presença do regime senhorial ainda se sente na paisagem... Mas há excepções. O senhor arquitecto Alves Costa conseguiu adquirir uma bela casa no Largo da Amoreira. Parabéns e que por cá passe muitos e agradáveis fins de semana a contemplar Monsanto e a cheirar a terra, porque a falar com as gentes é que vai ser mais difícil. Cada vez há menos gente na minha aldeia de adopção. Para os (já tão poucos) que cá estão e ficaram, voltamos a pedir (se quiserem de chapéu na mão como nos tempos da Beira Baixa):

QUEREMOS CASAS! QUERO CONSTRUIR UMA CASA PARA A MINHA FILHA QUE NASCEU EM IDANHA-A-VELHA . QUERO QUE OS MEUS NETOS BRINQUEM A TROPEÇAR NOS GRANITOS ROMANOS E NOS BETÕES E FERROS DOS SENHORES ARQUITECTOS POSTMODERNOS: QUEREMOS CONTINUAR A VIVER EM IDANHA-A-VELHA. A VIVER. A VIVER