Um pé de dança em Saint Chartier
Em Julho uma amiga bailadora desafiou-me para ir ao Festival de Saint Chartier. Visto sermos ambas companheiras de Andanças, pareceu-me uma ideia genial, uma vez que também nao tinha previsto ir este ano ao Andanças, assim sempre tirava barriguinha de miséria.
Lembro-me de esta amiga dizer-me um dia: "Dançar é estar mais próximo dos Deuses!". Nao podia estar mais certa... Assim que, num par de dias organizei trocas no trabalho, comprei bilhetes de aviao, preparei e empacotei os meus saboes e cremes (pois a intençao fazer feira durante o dia e aproveitar os bailes pela noite) para podermos ir bailaricar em Saint Chartier. Mas... claro... a mim nada se me apresenta fácil...
Resumindo: cheguei ao aeroporto para ir ter com a Tania às 3h da manha para fazermos o check-in às 5h; perdemos o aviao estando na fila do check-in; o unico local com internet no imenso aeroporto de Barcelona só abria às 6h30; o apoio ao cliente da clickair só abria as 8h para podermos ver se tinham alguma soluçao; o sitio onde podiamos consultar a internet pareciam maquinas de pinball, a 1€ cada 15m (ou uma barbaridade do genero) e levámos cerca de 20m a abrir a pagina da companhia aerea para ter a infeliz noticia que o voo mais proximo era apenas na manha seguinte; o nº do apoio ao cliente nao funcionava de telemovel; corremos todas as cabines telefonicas do aeroporto e nenhuma aceitava moedas e acabámos por ter de comprar um cartao de 12€ para que, para cúmulo, pelo apoio ao cliente por telefone nos quisessem cobrar o dobro do que se comprássemos uma passagem nova pela internet, ambas para o dia seguinte.
Conclusao: Fomos para Barcelona-centro, comprámos a passagem dum cybercafé decente para a manha seguinte; fomos vender bijuteria para a praia da barceloneta, seguido de um belo piquenique, e fomos dormir para o aeroporto (quase em cima da mesa do check-in para garantir que estariamos dentro de esse aviao caminho a Lyon).
E esse aviao apanhámos. Chegadas a Lyon apanhámos o comboio paraVierzon e de aí fomos à boleia até Saint Chartier. Na verdade, o casal que nos deu boleia ia levar-nos apenas até Chateauroux, mas animaram-se e decidiram levar-nos até Saint Chartier. Foi o que lhes valeu um bom susto... A 2 km da entrada da aldeia de Saint Chartier onde se iria realizar o festival, uma brigada da policia com caes parava todos os carros, possivelmente para controlar entrada de drogas no festival. Saimos todos do carro, o cao passou revista ao carro e encabrichou-se no banco dianteiro. A policia começou a tentar desmontar o banco, o rapaz suava e repetia insistentemente que apenas nos tinha dado boleia, a rapariga torcia as maos e nós estavamos comprometissimas... o rapaz foi simpático e assentiu em levar-nos até ao festival e, no fim, estao a desmontar-lhe o carro... Depois de andarem às voltas com banco chegaram à conclusao que possivelmente o cao fosse na realidade um brincalhao e deixaram-nos ir... eles voltaram para casa e nós conseguimos boleia com uma rapariga da organizaçao.
O festival de Saint Chartier é incrivel. Pagámos 10€ para poder acampar e os bailes das 19h às 5h da manha eram gratuitos. Se quiséssemos ver os cabeças de cartaz no castelo entao teriamos que pagar os respectivos bilhetes, mas o resto... grátis... Durante o dia, estendemos a manta na mercado que se criou em torno do castelo e enquanto eu vendia os meus saboes e cremes, a Tania vendia a sua bijuteria, o Jean, um amigo bretao, vendia poemas e uns rapazes portugueses vendiam marionetas. À noite... dançar até cair... literalmente!
Como tudo o que é bom acaba depressa, os 3 dias passaram a correr. Eu tinha de voltar para Barcelona e a Tania e o Jean levaram-me até Chateauroux para apanhar o comboio até Lyon, de onde saia o voo. E claro... o cosmos é dos diabos! Nao vou contar a minha experiencia horrivel numa casa-de-banho de moedas pois é demasiado embaraçoso, mas o comboio atrasou-se de tal forma que quando cheguei a Lyon o ultimo autocarro para o aeroporto (onde ia passar a noite para apanhar o voo de madrugada) já tinha saido. Pensei em dormir na estaçao de comboios mas fechava à meia-noite, assim que comparti o banco da paragem de autocarros com uma família argelina amorosa, cujo pai de familia tomou conta de mim sempre que se aproximava um estranho para se sentar no meu lado do banco eheh. Também eles tinham perdido esse autocarro. Assim, que apanhámos o 1º que passou para o aeroporto e... claro... o aviao para barna também se atrasou e cheguei a casa quase de noite.
Um festival recomendado a todos os bailariqueiros de danças tradicionais, para mim sem dúvida é uma experiencia a repetir...