O sorriso da mulher monsantina




















Separadas por algumas décadas reproduzem-se duas representações da mulher monsantina, se é que isso culturalmente existe. Na fotografia tirada em 1938, atente-se na legenda, tão ao sabor da ideologia cultural da época: “ O sorriso da bondade monsantina- símbolo nobre da mulher portuguesa”. Nem mais, nem menos. A outra é de autoria do ‘design’ José Luís Madeira e ilustra o livro. “Percursos..., de autoria do Dr. Artur Corte-Real e do senhor Arquitecto Carlos Figueiredo, editado em 1995. A obra foi um produto de divulgação turística da localidade resultante da renovação efectuada na aldeia ao abrigo do programa das Aldeias Históricas de Portugal. Encontramos aí descrições como estas: «Hoje, o Castelo, com todo o imenso Património que sustenta, oferece aos visitantes memórias e ambientes de um passado glorioso. Homens gritaram vitórias, choraram derrotas.» ou esta outra: «Hoje a Vila de Monsanto vive num ambiente de pacatez de uma aldeia da Beira Baixa, num quotidiano singelo. Quem a visita, testemunha um quadro vivo aparentemente imutável....”. Pelo lido de imutável ficaram as metáforas dos textos e essa da Beira Baixa, que administrativamente já não existe desde a reforma de Marcelo Caetano. O sorriso de 1938 realmente, esse foi mutável. Envelheceu.

PS- A fotografia ilustrou o número de abril de 1939, dedicado a Monsanto da revista Turismo. Em 1998, a revista Raia de Castelo Branco, produziu, uma edição fac-similada da revista com um texto de enquadramento de autoria de Pedro Miguel Salvado com o título: “Monsanto-Monte santo?”. Infelizmente tanto o original como a cópia encontram-se esgotados. Prova da mutabilidade do tempo, neste caso do tempo do papel.